SANTO ANTÔNIO, VIVA O NOSSO PADROEIRO!

Foto: Pascom Diocesana

Nestes dois anos, desde que fui nomeado para a Diocese de Osasco, estive presente em muitas festas dos padroeiros. Participei de novenas, tríduos, procissões. Há padroeiros que se repetem em diversas comunidades. Cada padroeiro, com sua vida e seu exemplo, representa uma maneira prática de viver o único evangelho de Jesus Cristo. Se juntarmos as nossas mais de quinhentas comunidades, com seus padroeiros, teremos um evangelho completo, um compêndio de teologia prática, uma catequese sem livro, que entra pelos olhos, pelo olfato, pelo afeto, fica na memória e toca o coração. Exemplo de santo sempre atual, com lindíssimas lições de vida, é o Padroeiro de toda a diocese, Santo Antônio de Pádua, celebrado no dia 13 de junho. Para compreender a sua atualidade e brilho evangélico, basta dizer que a nossa Catedral escolheu, para a trezena deste ano, considerar Santo Antônio como o Santo da Misericórdia, em perfeita sintonia com o Ano da Misericórdia que estamos a viver. Também na Catedral está a Porta Santa, assim designada para acolher aqueles que têm vindo de toda a diocese para receber as indulgências do Ano Santo. Quem quiser se servir de toda a graça deste ano jubilar, venha à Catedral nos primeiros 13 dias de junho, participe da trezena e da festa, se encante com o santo da Misericórdia, receba as indulgências, para si, para sua família ou para seus falecidos, dentro das condições exigidas pela Igreja que são: a Confissão e Comunhão, a oração do Creio e as preces nas intenções do Papa.
Santo Antônio é de todos nós
Muitas vezes ouvi o nosso povo se referir à Igreja Catedral de Osasco como “Igreja Matriz”, sem distinguir a sua função de ser a Igreja-mãe de toda a diocese. Ela não é exatamente igual às demais matrizes das 87 paróquias e áreas pastorais que compõem nossa diocese. A Catedral deve ser muito querida por todos os diocesanos porque ela oferece a todos o grande dom da unidade. É a sede do Bispo Diocesano que, além de confirmar a todos na mesma fé, tem a função de mestre de doutrina para toda a diocese e o pastoreio de todos. Por isso, para todos os diocesanos, estar na Catedral é estar em sua própria casa. Ter Santo Antônio como Padroeiro não diminui, nem atrapalha a devoção a seus padroeiros locais, antes os valoriza. Não vejo como impróprio, e mesmo recomendo, que os párocos, durante os primeiros dias de junho coloquem em destaque nas igrejas uma imagem do Santo Protetor de nossa diocese e promovam sua devoção, celebrando o amor que o nosso povo tem a Cristo por meio do exemplo e intercessão de um santo imensamente querido em todas as partes do mundo.
Treze razões para a atualidade de Santo Antônio

1. O Santo da Misericórdia – Santo Antônio é muitas vezes representado com um pão nas mãos. A devoção do “pão de Santo Antônio” até hoje se realiza nas igrejas franciscanas como um sinal de sua sensibilidade para com todos os necessitados. Pôde-se tomar a lista das sete obras de misericórdia corporais e as sete espirituais. Em todas se destaca Santo Antônio. Se hoje dizemos, com o Papa Francisco, que Cristo é o rosto da Misericórdia, por certo, Santo Antônio é um belo reflexo de Cristo Misericordioso.
2. O Santo da Bíblia – A Igreja hoje nos pede que toda ação evangelizadora, a catequese, a homilia dos padres, a liturgia, os grupos de rua, toda a pastoral seja animada pela Palavra de Deus. O fato é que muitos católicos de hoje não conhecem a Bíblia e não se alimentam da Palavra de Deus com frequência. De Santo Antônio se conhece que, com inteligência prodigiosa, sabia perfeitamente de cor a Bíblia inteira. Suas homilias mostram fartamente isso. Por isso, em sua imagem, aparece sempre com a Bíblia nas mãos. Exemplo para os cristãos de hoje é de sempre.
3. O Santo da Pregação e da Missão – O Papa Francisco pede que sejamos uma “Igreja em saída”, inteiramente missionária. Chegou a dizer que a causa missionária seria hoje a maior de todas as urgências da Igreja. Santo Antônio em seus poucos anos de vida (morreu com apenas 36 anos) andou por toda a Itália e o sul da França em missão e pregação. Tinha uma voz privilegiada. Dizem que podia falar em área aberta para milhares de pessoa, e ser bem ouvido. Sua língua e sua garganta foram encontradas intactas em seu túmulo, e o povo entendeu isso como um sinal de Deus. Sempre na estrada, sempre acolhendo e servindo ao povo, foi missionário todos os dias de sua vida, como hoje deveríamos ser.
4. O Santo da Eucaristia – No tempo de Santo Antônio, a Eucaristia era muito negligenciada. Muitos cristãos não iam à missa, ou “assistiam” sem comungar. Não havia a convicção da presença real de Cristo na Eucaristia. As espécies consagradas não ficavam nos sacrários, mas eram guardadas muitas vezes sem cuidado e sem respeito. Santo Antônio em suas pregações sempre ensinou o amor a Cristo Eucarístico. Diante da ironia de um herege, que negava a presença de Cristo, Santo Antônio convidou uma mula a se ajoelhar diante da Eucaristia e o animal obedeceu serenamente, expondo ao ridículo a inteligência do ateu. Hoje muitos cristãos desvalorizam a missa dominical, as famílias já não frequentam mais os sacramentos. Faltam pessoas que preguem como Santo Antônio nos dias de hoje.
5. O Santo devoto de Maria – Sabemos pelos escritos de Santo Antônio que ele era um grande defensor dos privilégios de Maria, sua Conceição Imaculada, seu lugar privilegiado no mistério da Redenção. Se era necessário mostrar que o Filho de Deus encarnado era verdadeiro homem, era também necessário confessar que Maria era a mãe de Jesus e, por isso, mãe de Deus, com todas prerrogativas e consequências. Nossa diocese recebeu a imagem peregrina de Aparecida que vai passar neste ano por todas as nossas paróquias preparando o seu jubileu tricentenário. Santo Antônio bem que nos ajuda a ser filhos amorosos de tão grande mãe.
6. O Santo do Amor e da Família – Acabamos de receber das mãos do Papa Francisco uma Exortação sobre a Alegria do Amor e sobre a beleza da família. Santo Antônio foi um potente defensor da família, reconciliando a muitos casais, oferecendo suas orientações preciosas aos jovens que buscavam o casamento. Infelizmente a piedade dos fiéis reduziu sua mística do amor familiar à pobre expressão de santo casamenteiro. É preciso recuperar a figura de Santo Antônio como o santo do amor e da ternura, da defesa da vida, da família, do perdão e da convivência feliz. Sua atuação é um exemplo para os sacerdotes de hoje.
7. O Santo da Reconciliação – Nosso tempo perdeu quase por completo a noção de pecado. Encontramos justificativa para todas as coisas que fazemos, e com isso perdemos o senso e a necessidade da reconciliação e da conversão. Santo Antônio conhecia bem os males mais presentes no seu tempo e, em suas pregações, sempre se referia aos males da avareza e da usura, da gula e da preguiça, da prepotência e da corrupção. Combateu com vigor as heresias, repreendeu as negligências dos ministros do evangelho, chamando todos à conversão. Hoje precisamos de pessoas como Santo Antônio que nos lembrem com sabedoria os caminhos de Deus e os desvios que fazemos por nossa conta, que nos trazem tanto prejuízo, a nós e à Igreja.
8. O Santo da oração e da benção – O povo acorria em multidão até Santo Antônio, confiando em suas bênçãos e suas orações. De fato, ele gastava a metade do seu tempo em oração e contemplação, diante de Deus, e esse era o segredo da força de suas palavras e orações. Muitos relatos de milagres, testemunhos de conversão, curas espantosas são atribuídas à sua intercessão. Santo Antônio abençoava o povo com estas palavras: “Eis a Cruz do Senhor, afastai-vos inimigos da salvação, pois venceu o Leão da Tribo de Judá, Jesus Cristo, Senhor nosso”. Também muito conhecido é o Responso de Santo Antônio que começa assim: “Se milagres tu procuras, pede-os logo a Santo Antônio, fogem dele as desventuras, o mal, a peste e o demônio…”
9. O Santo da Ecologia – Um imenso desafio que hoje enfrenta a humanidade é a destruição da natureza, produzida em escala planetária pela exploração desenfreada dos recursos naturais. O consumo em excesso e o lucro a todo custo produzem lixo aos montes e degradação da vida humana. Santo Antônio era franciscano, e na mesma linha de São Francisco, contemplava a natureza como um dom de Deus Criador. Respeitava a vida, falava com as aves dos céus e os peixes vinham à tona para escutar seus ensinamentos. Pedia respeito sobretudo para com os pobres, deixados na miséria. Poderia bem ser de Santo Antônio a afirmação do Papa Francisco que observa assim na recente Encíclica Laudato Si: O meio ambiente e o ambiente humano se degradam ao mesmo tempo e pelas mesmas causas. Impossível corrigir uma coisa sem considerar a outra. (Cf LS, 48)
10. O Santo da proximidade – As angústias, os medos, as dúvidas e as dívidas, os conflitos e injustiças não ficavam sem uma resposta carinhosa de Santo Antônio, com bom senso e equilíbrio, com respeito e atenção. Sofria com os que sofriam, alegrava-se com os alegres, rezava e agradecia com todos. Usava a linguagem do amor que era compreendida por todos. Proximidade é uma palavra usada com frequência pelo Papa Francisco aos sacerdotes. A eles o Papa pede, na recente Exortação Amoris Laetitia sobre a Família: “convido os pastores a escutar, com carinho e serenidade, com o desejo sincero de entrar no coração e no drama das pessoas, para ajudá-las a viver melhor e reconhecer seu lugar na Igreja”. (AL 312)
11. O Santo da pobreza e humildade – O traço mais característico do seu fundador São Francisco, o nosso padroeiro também herdou e viveu: a pobreza e a humildade. Era de família abastada e nobre, tudo deixou e foi viver como mendigo. E o fez para melhor repartir os bens com os necessitados, e para aproximar-se deles sem dificuldade. E pregava que Deus, sendo rico, se fez pobre para enriquecer a nossa pobreza. Amar os pobres, dedicar-se aos abandonados, ser uma Igreja pobre e a serviço dos pobres, como pede hoje o Papa Francisco, é uma marca da necessidade e atualidade de Santo Antônio, nosso padroeiro.
12. O Santo das coisas perdidas – A piedade popular confere a Santo Antônio esse dom: o de ajudar-nos a recuperar os bens perdidos. E nós vivemos perdendo as coisas, seja por causa da pressa que tira a nossa atenção, seja pelo excesso de coisas que possuímos. Mas não devemos ficar na superfície dos interesses miúdos. Podemos ver em Santo Antônio aquele que nos ajuda a reencontrar o caminho da fé, quando a perdemos, ou então tornar-nos solidários com aqueles que sofrem com uma grande perda, como a morte de um ente querido ou perdem os bens em situações de calamidade natural.
13. O santo que queria ser mártir e encontrou a Paz – Parece-nos muito estranho, e mesmo doentio, alguém que queira morrer. Mas podemos entender como heroísmo alguém que morre por amor, ou morre defendendo uma causa justa. Jesus enfrentou a morte para nos dar a salvação, e Santo Antônio, compreendendo isso, queria também morrer por Cristo, como mártir. Foi conhecendo o exemplo dos primeiros mártires franciscanos que Santo Antônio deixou a vida de monge recluso e se tornou franciscano, pedindo aos superiores para ir pregar no lugar daqueles que tinham sido martirizados. Quando vivemos poupando a nossa vida, vivemos angustiados. Quando a gastamos prodigamente em serviço dos outros e da fé, encontramos uma grande paz. É essa paz ativa que Santo Antônio perenemente conquistou.

Estas treze motivações ficam registradas aqui como incentivo para as nossas comunidades colocarem em prática aquela sugestão de se fazer a trezena, ainda que breve, em toda a diocese. Proponho que no final das missas, de 1 a 13 de junho se cante um hino conhecido, se faça esta pequena reflexão, e se acrescente uma oração, dizendo no final: Santo Antônio, nosso Padroeiro, rogai por nossa Diocese”. É uma simples sugestão pastoral que está longe de ser uma norma, e não tem a força das propostas do plano de pastoral, votadas em assembleia. Uma simples ideia. Se tiver alguma repercussão e realização nas comunidades, será pela compreensão da importância da unidade e comunhão diocesana. Será garantida simplesmente pela simpatia e riqueza do testemunho de Santo Antônio, ele sim, merecedor do nosso carinho como intercessor e exemplo.

Dom João Bosco, ofm
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