“O Papa não quer resolver sozinho todas as questões”, destaca dom João sobre a “A alegria do amor”

Foto: CNBB

Na última sexta-feira, dia 08, a Igreja Católica apresentou a Exortação Apostólica “Amoris laetitia” (AL), traduzida como “A alegria do amor”. Aonde o Papa Francisco apresenta sínteses e resultados dos dois Sínodos convocados por ele, em 2014 e 2015, cujo tema central era a Família.

Para falar um pouco sobre o documento com nove capítulos e mais de 300 parágrafos, conversamos com Dom Frei João Bosco, bispo da Diocese de Osasco e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB.

[Pascom] Como a igreja do Brasil,  através dos seus bispos reunidos na AG, receberam a Exortação “A alegria do amor”?

Dom João: A acolhida foi muito boa, pois já tínhamos uma ideia do que seria o documento. Embora o tempo da Assembléia seja muito escasso, tivemos oportunidade de comentar entre nós bispos e está previsto um momento para que a Comissão de Doutrina da CNBB possa fazer uma apresentação do conteúdo teológico do texto para todos os bispos. Houve uma coletiva de imprensa logo de manhã, onde dom Odilo foi encarregado de explicar para os meios de comunicação o conteúdo básico da Exortação, sua novidade, e temas mais abrangentes.

[Pascom] O Brasil é um país de uma cultura diversificada. De que forma tal cultura pode ajudar e influenciar na busca de soluções para questões problemáticas do tema.

Dom João: O Papa faz uma boa reflexão sobre a inculturação, ou seja, a abusca de soluções adequadas a cada realidade e à diversidade de características de cada país. Problemas tão complexos e diversos não podem ser resolvidos com uma só medida ou um ensinamento do magistério da Igreja. É preciso acompanhar, respeitar as diferentes situações, ouvir, aproximar-se das pessoas, fazer um caminho gradual, integrar. Penso que a diversidade de culturas, dentro do nosso país pode ajudar a encontrar soluções realistas, como o Papa deseja, para cada situação.

[Pascom] No número 202 da AL o Papa aponta a necessidade de formação dos padres em lidar com problemas atuais da família. Quais formações são necessárias?

Dom João: Uma das novidades desta Exortação é que o papa não quer resolver sozinho todas as questões, como se tivesse solução pra tudo. Ele com humildade e confiança, deixa muitas questões em aberto, e confia nos bispos e nos sacerdotes para que busquem essas soluções, com misericórdia. Ele dá as linhas gerais: acolher a todos, não excluir, ir ao extremo do cuidado e do amor. Mas as soluções concretas, o padre, o bispo, as famílias, devem procurar no diálogo, no respeito e na oração. Corre-se o risco de permanecer na superfície, banalizar, tomar atalhos fáceis. Por isso a necessidade da formação, da unidade nos critérios, do aprofundamento no confronto com a Palavra de Deus também por parte dos padres e bispos.

[Pascom] O papa escreve por diversas vezes que a família não é uma realidade perfeita, mas em construção. De que a forma a igreja pode ajudar no “progressivo amadurecimento” da família?

Dom Bosco: Dizer que nenhuma família é perfeita, é um ponto de partida interessante. Ninguém se sinta excluído por ter dificuldades familiares. Ele completa que essa constatação não deve tirar a nossa esperança. A Igreja pode mostrar-se misericordiosa com quem não vive completamente regular.
Porém a Igreja sempre irá apresentar como caminho a medida alta da santidade. Não vai apresentar um ideal diminuído pela nossa incapacidade de realizar tudo. Em alguns momentos ele fala de gradualidade: se não é possível o ótimo, vamos nos alegrar com o bom, porém sem acomodar, sempre buscando o mais perfeito.

[Pascom] Como a família pode ser um sujeito da evangelização?

Dom Bosco: Quanto a família ser sujeito da evangelização, essa expressão é bonita: Ela não apenas recebe a instrução da Igreja. Ela é Igreja doméstica. Ela aprende e ensina. Ela está presente no quotidiano do mundo que só será transformado num mundo de amor, a partir do amor, do cuidado, da misericórdia.

Por Rômullo Dawid / Pascom Pedro e Paulo